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#002 - Objeto de estudo ou gosto adquirido?

Porque às vezes o gênero que você sempre evitou ao máximo pode ser um ponto de partida ótimo para pensar sobre como contar histórias

Tinha dez anos (acho) quando sentei ao lado dos meus irmãos na sala de casa para assistir Vampiros de John Carpenter (Vampires, 1998. Dir.: John Carpenter) e não consegui dormir em paz pelas próximas noites.

O mesmo aconteceu por conta de um comercial (veja bem, um comercial) anunciando uma reprise de A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 1984. Dir.: Wes Craven) no SBT.

Durante anos, evitava ao máximo filmes de terror pelo pavor que ele causava em mim. Mesmo flertando com o gênero em ocasionais episódios de Supernatural ou Arquivo X.

Não sei quando esse medo deixou de fazer efeito em mim. Desconfio que veio por conta de um dos meus filmes favoritos de um dos autores que mais gosto. O filme era O Nevoeiro (The Mist, 2007. Dr.: Frank Darabont) e o autor era Stephen King.

Nada tão marcante quanto um antagonista tão bem feito que dá raiva só de olhar para a foto

É até curioso pensar que dois dos meus pedaços de mídia favoritos durante a minha adolescência eram obras de horror: O Nevoeiro e Christine (uma edição publicada pela editora Objetiva que peguei na biblioteca do ensino médio). Mas se o medo por vezes é irracional, por que meus gostos deveriam ser?

Desconfio que o que me atraiu para essas obras para início de conversa foi uma fácil identificação dos temas em cada uma delas. O Nevoeiro fala sobre sociedade em tempos de crise, sobre preconceito e fanatismo (Marcia Gay Harden no papel da Mrs. Carmody continua sendo a melhor atuação que já vi na vida). Enquanto Christine fala sobre a sensação adolescente de que somos invulneráveis e o vício que experimentar o poder causa em indivíduos que nunca tiveram muitas chances na vida. O tipo de tema que é um prato cheio para um adolescente gordo, que sofria bullying e ainda nem se descobrira gay.

King se tornou meu autor favorito durante anos e ainda é — embora não mais o único — e, pensando no horror, ele reflete bastante sobre o gênero em Dança macabra (tradução de Louisa Ibañez. Objetiva, 2013). No livro, King comenta muito sobre o horror como janelas para estudar o comportamento humano em um ambiente seguro.

Não é tão bom quanto “Sobre a escrita”, mas gosto da dobradinha dos dois para estudar narrativas do ponto de vista do King

Com o horror, você pode refletir sobre o comportamento do próximo em crises e também pensar de quais maneirar você se comportaria, estando no mesmo lugar que os personagens. E não é exclusividade do horror fazer isso, que fique bem claro. Uma comédia romântica água com açúcar também pode trazer boas reflexões, oras.

Pensar em como uma obra impacta quem consome é algo que o horror me ajudou muito a entender. Não apenas o que King escreveu em Dança macabra, mas dois canais do YouTube focados em cinema de horror também ajudaram nesse processo. Dead Meat e Ryan Hollinger apresentam, em seus vídeos, histórias por trás da produção tanto de filmes de horror badalados, quanto alguns mais obscuros.

Aprender sobre o processo dessas produções sempre é interessante porque traz um aspecto que julgo importante sobre contar histórias: as intenções e escolhas.

Quando contamos histórias, temos uma série de opções a disposição para causar reações no público. Estudar como um gênero conhecido por causar reações tão fortes nas pessoas atingiram (ou não) tal objetivo sempre rende boas ideias.

Se o meu interesse por horror é um gosto moldado pelo tempo ou um interesse no ofício de contar histórias, não sou capaz de definir. Por que não as duas coisas?

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