004 — Revirando o limbo

Vai saber o que de bom e ruim a gente escreveu anos atrás e ficou esquecido por lá?

Nada tão comum com pessoas que escrevem do que ter uma quantidade enorme de histórias começadas, engavetadas ou simplesmente rabiscadas no melhor estilo “um dia eu mexo nelas”.

Pensando nisso, resolvi revirar a minha pasta, logicamente intitulada “limbo”, para matar a curiosidade do que engavetei para, um dia, retomar e fazer virar uma história propriamente dita. Vamos lá?

Adicional noturno

A pasta com o título dessa história tem apenas um arquivo do Word, também chamado “Adicional noturno”, e, ao abri-lo… está em branco.

Não, eu não lembro sobre o que seria a história. Algo a ver com pessoas que trabalham durante turnos noturnos, usando um pouco da experiência que eu tenho trabalhando em turno noturno, talvez?

Vamos torcer para a próxima pasta trazer algo mais interessante.

Antes da aula começar

Esse eu lembro! Era um conto que eu comecei a trabalhar para a coletânea As crônicas da Unifenda, que saiu pela Plutão Livros em 2020.

Eu nunca terminei essa história, não estava feliz com o resultado, mas lembro um pouco da premissa:

Um estudante da Unifenda usa da sua habilidade de voltar no tempo apenas em locais que parentes consanguíneos também estão para colar em uma prova, feita pelos seus pais quando eles nem eram namorados. Ele acaba preso pelo sistema ante-cola da universidade, uma espécie de limbo, e encontra a versão jovem da mãe dele, também pega por tentar voltar no tempo para, também, colar na prova.

Abandonei porque não sabia muito o que fazer com a premissa, ainda que legal.

Caos em Bauru

Uma ficção relâmpago que escrevi em uma oficina de escrita criativa. Era toda em formato de notícia de jornal, contando sobre um caso curioso de automóveis parando de funcionar na cidade de Bauru logo após seus condutores cometerem uma infração de trânsito.

Divertida, mas nunca achei muita aplicação pra ela a não ser um exercício de escrever formatos diferentes.

Cruzeiro futuro

Uma dupla de espiões corporativos entram de penetra em um cruzeiro para roubar a próxima novidade da empresa rival, promotora da viagem. Abandonei por não saber o que fazer com o ponto de vista — terceira pessoa limitada? — e nem qual era a tal novidade promovida pela empresa. Zumbis, talvez?

Mas gosto da dupla de protagonistas, Frediano e Ágata, e ela começa em um diálogo metido a engraçado:

— Isso é... Frozen? — Fred perguntou a si mesmo ao ouvir o xilofonista acertando notas semelhantes às de Elsa cantando que o passado ficou para trás.

— Na verdade é Jota Quest — o bartender atrás do balcão respondeu enquanto agitava a coqueteleira freneticamente, triturando o gelo em seu interior. — Eles até tocavam “Let It Go”, mas a Disney processou a banda por direitos autorais.

Ethos

Epa, essa está no limbo, mas quero retomar assim que possível. É uma história de terror sobre um espírito que se duplica toda vez que a pessoa que ela está possuindo morre, e a presença do espírito causa maior furdúncio em uma cidade pequena.

Essa história já virou roteiro pra série de TV, voltou para romance, e de novo série. Capaz de, se eu pegar pra mexer, transformar em musical. O que não é má ideia…

Fica na gaveta enquanto eu ainda não peguei o jeito pra escrever terror.

O quarto do astro

Essa história eu quis brincar com os incontáveis livros que saem na Amazon sobre moças se apaixonando por astros de rock. Na trama, uma jornalista tem um caso com um astro da música. O cantor é sequestrado por um amigo apaixonado pela moça e morre. No final, é revelado que o amigo apaixonado é alucinação da jornalista.

Foi para o limbo porque não estava nem um pouco legal. Não pretendo nem chegar perto de mexer no futuro.

Reverso e Interdimensional

Um herdeiro que não quer ser herdeiro, por ódio do pai, troca de corpo com uma versão do universo paralelo que, esse, sim, quer ser herdeiro, mas está fugindo de terroristas.

Gosto muito dessa história, uma das primeiras que escrevi, e tem boas 17 mil palavras explorando a ideia de que os universos paralelos são aberrações que vivem se forçando a unir-se em apenas um.

O que justifica a premissa de Interdimensional, outra história no limbo, com assassinos de aluguel que viajam para universos paralelos para aproveitar a ideia de que, se você morre em um universo, você morre em todos os outros, e usam disso para cumprir seus contratos sem deixar rastros.

Gosto muito dessa ideia, mas só de explicar um pedaço das regras, já fiquei cansado. Quem sabe outro dia eu pego.

Admito que foi um exercício divertido e que, olha só, não tem tanta coisa ruim no meu limbo.

E aí, quais histórias você pode encontrar revirando a sua gaveta?

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