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#005 — E se a história se repetir?
Dá pra continuar tentando mesmo com o trauma causado pela última vez que você tentou?
Em 2016, eu trabalhava como caixa em um posto de parada rodoviário no turno da madrugada enquanto finalizava o curso de jornalismo. Terminado o curso, eu virei para o meu emprego, que não tinha nada a ver com o que estudava, e pedi demissão com quatro anos de empresa.
Afinal, eu estava terminando a faculdade e logo arranjaria um emprego maneiro dentro da minha área, certo?
É, não.
O que rolou foram seis anos, de 2017 a 2022, batendo na trave e não conseguindo nem ao menos freelas na minha área. Claro que nem tudo era culpa de uma possível inadequação minha ao mercado ou eu que não sabia procurar, tivemos desmanche do governo Temer e uma pandemia nesse período, veja bem. Mas o estrago foi feito.
Me endividei, minha autoestima e confiança no meu trabalho foi lá em baixo, minha relação com meus pais também não ficou das melhores. Também foi um período em que comecei a escrever e estudar o mercado, o que me colocou onde estou atualmente, mas, ainda assim, não era trabalho de verdade. Com carteira assinada, chefe e, principalmente, salário.
O retorno ao CLT em 2022 não foi dos mais fáceis. Como voltar a ter colegas de trabalho, chefe e responsabilidades depois de tanto tempo longe e ainda mais trabalhando em marketing, coisa que eu só estudei e nunca havia trabalhado? Acrescenta umas crises de ansiedade, problemas de insubordinação no trabalho e comportamentos que me causam vergonha só de pensar neles.
Pula para 2024, em que comecei a trabalhar como agente literário e fazer do mercado literário minha área de atuação. Paralelo a isso, tinha a estabilidade no marketing de uma empresa da região, ganhando razoavelmente bem e considerando um apartamento para ficar mais perto do trabalho.
Até resolverem terceirizar o setor de marketing e eu rodei nessa.
Não foi uma decisão surpreendente — após ter passado por outras duas empresas que fizeram o mesmo, você começa a reconhecer os sinais — e isso me deu a ideia de focar totalmente no mercado literário.
Cancelei o projeto do apartamento e transformei as economias em um caixa para ir me mantendo nos meses em que os freelas estão mais fracos e comecei uma pós na área para ter uma formação, com nome e sobrenome, em gestão editorial.
Tudo muito bem planejado, obrigado.
Ainda assim, minha cabeça traça paralelos com o que aconteceu entre 2016 e 2022 e fala: “ei, você tá alimentando expectativas irreais de novo”.
Eu também tinha tudo muito bem planejado naquela época. Eu também tinha muitas expectativas e confiança de que ia dar certo. E se a história se repetir? E se eu quebrar a cara de novo?
Uma coisa que me tranquiliza um pouco, bem pouco, é que o Lucas de hoje em dia não é o mesmo de 2016. Em 2016 eu, literalmente, não tinha nada. Não tinha contatos, maturidade e nem orçamento inicial. Era uma ideia na cabeça e nenhuma noção.
Hoje eu já estou inserido dentro do mercado, tem pessoas que gostam do meu trabalho e me indicam sempre que possível. A pegada é completamente diferente, dessa vez.
O medo ainda existe. Eu estou mudando de carreira. É uma aposta alta.
Mas, enfim, vai com medo mesmo.
Pelo menos eu tô tentando.
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