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#007 — No meu próprio ritmo
Mais um pouco das constantes reflexões sobre consumir cinema e TV após fazer disso minha profissão
Na primeira edição da newsletter, contei sobre (não) querer produzir conteúdo e como essa é uma questão que sempre me deixa mais cabrero do que o habitual (*ba dum tiss!*). Pois bem, a newsletter de hoje continua esse assunto. Mais ou menos.
Um dos argumentos que uso frequentemente para me afastar de qualquer debate sobre filmes e séries é que a minha experiência escrevendo crítica dessas produções me cansou a ponto de não conseguir aproveitar esses produtos sem ativar o modo crítico e virar o chato que reclama que o “contra-plongée no rosto do ator não refletiu toda a nuance dos dilemas morais da história”.
OK, estou exagerando. Nunca virei o chato do rolê, e mesmo quando escrevia crítica de cinema e TV, nunca comentei sobre contra-plongée. Mas passei quase dez anos escrevendo resenha de série e filme na internet e isso tem seus impactos.
Quando encerrei meus últimos projetos, senti que havia condicionado meu olhar a consumir cinema e TV com o olhar crítico. Quando esse condicionamento entrou em choque com o cansaço (trauma? Falência financeira?) que produzir esses conteúdos causava em mim, o que sobrou foi uma aversão (preguiça? Desinteresse?) de consumir algo que eu sempre gostei.
A forma de minimizar esse impacto foi buscar alternativas. Como posso consumir coisas que eu sempre amei sem sentir a pressão de vestir a roupinha de crítico? Fazer as coisas no meu ritmo, pra variar, e não porque eu precisava postar a resenha no fim de semana de estreia do filme.
Pensando nisso, eu me afastei cada vez mais de consumir o que tava na boca do povo. Saiu nova temporada de Wandinha? Olha eu conferindo Gilmore Girls. Marvel lançou filme novo nos cinemas? Momento perfeito para maratonar todos os filmes da franquia Brinquedo Assassino. Nova temporada de Doctor Who? Ok, essa eu assisto com a galera.
Que fique bem claro que não tem nenhum problema em acompanhar a tendência. Eu entrei na onda de Guerreiras do K-pop e estarei completamente pintado de verde na estreia da segunda parte de Wicked em novembro. Não tem nenhum problema e você não é menos por seguir o zeitgeist, mas tem feito bem pra mim me afastar dos hypes do momento.
Sinto que estou em um constante estado de desintoxicação, em que estou fugindo das tendências para ter alguma sensação de controle sobre o que eu quero consumir.
Talvez (e o que direi a seguir pode muito bem anular os primeiros parágrafos dessa newsletter) essa perspectiva de consumo não tenha tanto a ver com o impacto de ser um ~blogueiro aposentado~ e sim com uma reação natural de quem está cansado do algoritmo mandando.
Entretanto, os processos de escolha sobre o que consumir ou não e em qual momento essa escolha e consumo ocorre são tão específicos, tão conscientes e, ao mesmo tempo, dependentes do inconsciente, contexto, tempo e orçamento, que dá pra ignorar o cansaço citado como parte da causa?
No fim das contas, o que importa não é de que estou exercendo alguma forma de controle sobre o que consumo?
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